terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Auto biografia de um coco


Nasci na copa de uma árvore robusta, que nascera num solo arenoso, numa longa faixa da costa. Lá do alto, como de uma atalaia, desfrutava de uma vista fantástica de tudo aquilo que me rodeava.
Era muito feliz e sentia-me orgulhoso de ser coco. Pensava que meu pai era maravilhoso, até que, ouvi alguns transeuntes dizerem mal dele e de toda a família. Se bem me recordo, um deles disse:'- Que calor este. Se ao menos este maldito coqueiro nos desse alguma sombra. Não posso, com os coqueiros. Tão rugosos, tão feios e disformes! Sem folhas nem flores e sem qualquer cheiro!'Isso fez com que me sentisse tão desgraçado que algo mudou bem dentro de mim. Como é que não vi tudo isto antes? Realmente eu era feio, quase disforme. Sentia-me envergonhado. Eu decidi que nunca mais deixaria fosse quem fosse ver a minha fealdade interior...
Comecei a construir ao redor de mim uma casca muito densa, dura e peluda, para proteger o meu interior dos olhares indiscretos. Além disso, nem dentro de mim havia algo de bom. Se alguém me tivesse visto por dentro, desprezar-me-ia e recusar-me-ia ainda mais. Por isso teci ao redor de mim uma capa de matéria áspera, peluda de cor parda, desagradável ao tato, para que ninguém se atrevesse a tocar-me. Mesmo não gostava que me tocassem nem acariciassem.
Ao cabo de algumas semanas, em que estive deprimido, meditando sobre minha desgraça e quase sem falar com meus irmãos e irmãs, fui, de repente, surpreendido por um impetuoso temporal. Todos éramos sacudidos violentamente. Horrorizado, agarrei-me ao meu pai, pois temia ser arrancado da árvore.
Tudo inútil, porém. Perdi o controle e senti que era atirado com veemência lá para baixo, caindo no escuro e no vazio. Fiquei aturdido ao bater no chão, magoado e dolorido com a pancada. Só e cheio de medo, pensei que a única coisa que me esperava era aguardar a morte. Sem dúvida que soara a minha hora... pensei quando um grupo daqueles odiosos transeuntes se aproximou de mim.
Mas que agradável surpresa foi para mim ouvir um deles dizer:
'- Olha que coco tão bonito! Realmente tivemos sorte!'
Não queria crer no que ouvira. Senti que pegavam em mim e me agitavam junto ao ouvido de um jovem. O nariz dele começou a cheirar-me e os seus lábios murmuravam, dirigindo-se diretamente a mim:
' - Que coco tão fresco, doce e saboroso tu deves ser! Alegro-me deveras ter te encontrado.'
O que?! Eu, fresco e doce?! Tinha de haver algum erro. Certamente que eu não passava de uma coisa estúpida, disforme, feia e insípida, que se contentava que a deixassem em paz.
O rapaz começou a tirar, com cuidado, os pelos ásperos e pardos, que eu fizera crescer à volta de mim para me proteger. Fê-lo com grande delicadeza como se não quisesse magoar-me. Pela primeira vez em muitos meses voltei-me a sentir feliz. E nem me dei conta de que o rapaz pegava numa grande pedra e começava a bater-me com muita força. Ia-me golpeando cada vez com mais força e energia. Gritando de dor, quis perguntar-lhe que procurava e pedir que parasse. Ela devia saber que dentro de mim apenas há fealdade. Que esperava encontrar debaixo da minha casca insensível e dura?
Uns segundos mais tarde, ouviu-se um forte estalido. Senti que me partiam em dois. Das minhas feridas começou a ressumar um suco. E, com surpresa minha, o rapaz e os amigos iam-no bebendo. Com os seus gestos de satisfação queria dizer que lhe estava a saber bem. Todos falavam da frescura e da doçura do meu suco.
A minha maior surpresa foi quando, depois de separarem as duas partes de minha casca, arrancaram algo do meu interior. Algo de imaculado. O meu interior era belo. E era evidente que o comiam com gosto.
' - Afinal, as pessoas gostam de mim!', exclamei comovido.
' - Não sou feio nem inútil. Rogo-lhes, por favor: comam-me! Comam-me todos! Que satisfação dar tanto prazer a pessoas que fizeram com que, finalmente, acreditasse em mim mesmo!'


Mensagem da parábola:
- descobrir as nossas riquezas interiores;
- ter estima por si mesmo;
- por que razão temos de nós uma imagem negativa;

Idéias e aplicações:
- temos tesouros internos ocultos atrás de um exterior áspero;
- o melhor presente que podemos dar aos outros é a nossa " incondicional" aceitação dos mesmos;
-não deixamo-nos moldar por modelos alheios, como a sociedade e as influências exteriores;
- se acharmos que os outros não acreditam em nós, também não acreditaremos
- se recusarmos a nós mesmos, como queremos que os outros nos aceitem?

(Fonte: Salvatorianos)

Wanderley Elian

© - 2006 - Salvatorianos - Todos os direitos reservados

19 comentários:

  1. Rapaz,

    que bom ler isto no início do meu dia. Bom é pensar a partir de ponderações como estas que você nos deixou aqui.

    Valeu.

    Um abraço.

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  2. "Esse coqueiro que dá côco
    Oi! Onde amarro minha rede
    Nas noites claras de luar...".
    (Aquarela do Brasil - Ari Barroso).

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  3. Hey,

    Participe com a gente da postagem coletiva. Sobre música. É uma parceria dos Blogs Furo e Ká Entre Nós. Os blogueiros estão convidados a fazer uma postagem sobre seus estilos músicais, o que gostam ou não e a partilhar com a gente sua TOP 5 play list. Nossa última postagem coletiva foi um show. 115 blogueiros participaram. Visite o Ká Entre Nós ou o Furo LM para melhores informações. Ou aqui http://toaquivocetambem.blogspot.com/2009/12/flash-mob-postagem-coletiva.html
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    Abraços
    Jay

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  4. Super show amigo, otima a auto biografia do coco,,,agora, que venha a do quase xará apenas com o acento em outro lugar...rs.rs...abraços e um belo dia pra ti...

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  5. Olha, esse é o melhor texto do seu blog até agora!

    Aplaudindo de pé aqui!

    Bjux

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  6. kkk... vivo cercado por coqueiros, mas nunca mais serei capaz de olhar um coco da mesma forma!

    Ah, e pra mim o coqueiro é uma planta linda!

    Jr.

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  7. Belo texto Wanderley, as vezes precisamos nos desligar daquilo que achamos ser nosso porto seguro para viver uma outra realidade e descobrir o quanto somos importantes e queridos.
    Parabéns.
    Abs

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  8. Vanderlei,

    Inteligênte e atrativa a sua forma de dividir seus conceitos (imagino que seus) expressos no texto.

    No começo comecei a ler com algumas interrogações e ao captar a mensagem começou a ficar gostosa a leitura ... Parabéns ... bom texto.

    Abração amigo.

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  9. Que importante e profundo,o texto e a mensagem que transmite.
    Valeu a leitura.
    Tenhas uma bela tarde.
    bjs

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  10. Menino! Que mensagem em! Os mergulhos dentro da gente mesmo são dolorosos mas necessários, muitas vezes o que há de melhor está na sombra, Trazer à luz é tão saboroso qto a carne do côco.
    Belíssimo ensinamento. Adorei! Obrigada pela visita. bjão

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  11. ELIAN,
    FAZENDO VISÍTINHA A VC ADOREI SEU BLOG CHEIO DE COISAS INTERESSANTES ,AMO LER TUDO QUE APARECE,SE QUIZER ME FAÇA VISITINHA TBM!!!
    TÉ +...

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  12. Wanderley poeta,

    Que postagem sensível e de profunda reflexão.
    O grande mergulho tem que ultrapassar a parte sombria...
    Muitas vezes dolorosos mas curativos.
    Muito obrigada pela visita e comentário.
    Sublimes abraços

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  13. Carambaaaaa ameimuito, é lindo, eh tocante é... uau
    realmente é muito fácil enchergarmos nossos defeitos mas achar as qualidades é complico, devemos olhar para dentro e ver a pessoa bela q somos
    Obrigada!!!

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  14. Boa noite meu querido.
    Eu te desculpo sim pela troca do nome.
    Linda postagem,uma verdade incontestável...
    Parabéns pela escolha.
    Um beijo grande.

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  15. Genial, Wanderley. Bela mensagem velada! Você é "o cara", "grande cara", sabia? Parabéns!!!!

    Beijossss

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  16. Wanderley
    Belo texto..muito bom mesmo.
    Adorei
    Beijinhos

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  17. Olá amigo! Um belo texto, bastante profundo e verdadeiro. O autoconhecimento permitiu que o coco se conhecesse melhor e soubesse o seu real valor. Aqui pra nós, o coco é gostoso. Só não é aconselhável comer muito, para não ficar com cara de quenga. Rsrs. Bela escolha. Parabéns!

    Abraços e uma ótima quinta-feira.

    Furtado.

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passou por aqui . deixe sua impressão . obrigado

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