Mudamos para um bairro em formação. Nossa casa era a unica de uma rua sem calçamento. No entorno, apenas áreas ainda não loteadas e muito verde. O quintal era enorme, cheio de árvores frutíferas: abacate, mamão, ameixa, figo, etc. Minha mãe logo providenciou um galinheiro e uma horta.
No fim da rua tinha uma lagoa formada por uma mina, que, não sei de onde, vinham crianças e adultos para nadarem. Tudo era difícil. Pegar ônibus, fazer compras, ir à escola, era quase uma aventura. À noite, o silêncio era tanto, que qualquer barulhinho, virava um barulhão, era de dar medo. Eu dormia rezando para amanhecer logo. Acordávamos com o cantar do galo.
Com tempo, as áreas foram loteadas , novas casas foram surgindo e aparecendo os vizinhos. Meu irmão e eu vivíamos a espectativa de ter crianças para brincarem com a gente. Cada família que chegava, se integrava as que já estavam, formando uma grande família. Tudo se pedia emprestado: ovo, pó de café, açúcar, até dinheiro. Era normal.
Trocaram os postes de madeira por concreto, calçaram as ruas, colocaram linha de ônibus. Tudo mudando rapidamente. O "Cine Amazonas" surgiu imponente e tornou-se a sensação do bairro. Aos domingos íamos à matinê e aproveitávamos para trocar gibis e figurinhas.
A especulação imobiliária foi levando para longe, cada vizinho. Cada um que partia, partia nosso coração.
Íamos resistindo...
Os irmãos casaram o pai morreu, e a casa ficou grande demais.
Enfim, chegou a nossa hora de abandonar a rua Maranguape 344. Foi um dia de tristeza e dor.
Demorei muito tempo para voltar naquela rua. Hoje no lugar da casa que seria tombada pelo patrimônio municipal, existe um prédio, feio e frio, e a casa da minha infância só existe nas fotografias e nas lembranças.
Wanderley Elian