sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ritual do Amor Civilizado


Sexo? Só depois do jantar
do Teatro
da Boate
do Trabalho
da Casa
dos Filhos...
E as estatísticas confirmam:
o melhor foi o pior...
José Angelo Gaiarsa
Wel


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Amanhecer


Quero nascer de novo em cada dia que nasce.
Quero ser outra vez novo, puro, cristalino.
Quero lavar-me, cada manhã, do homem velho, da poeira velha, das palavras gastas, dos gestos rituais.
Quero reviver a primeira manhã da criação, o primeiro abrir dos olhos para a vida.
Quero que cada manhã, a alma desabroche do sono como a rosa do botão, e surja, como a aurora do oceano, ao sorriso dos teus lábios, ao gesto de tua mão.
Quero me engrinaldar para a festa renovada com que cada dia nos convidas e desdobrar as asas como a águia em demanda do sol.
Quero crer, a cada nova aurora, que esta é a definitiva, a do encontro com a felicidade, a da permanência assegurada, a de teu sim definitivo.

Chico Xavier

Wel


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A incapacidade de ser verdadeiro



Paulo tinha a fama de ser mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar jutebol durante quinze dias.
Quando o menimo voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame,o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
Carlos Drummond de Andrade

Reflexão:

"Ninguém comete erro maior do que não fazer

nada porque só pode fazer um pouco"

Edmund Burk

Wel



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Quarta-Feira de Cinzas


A Quarta-Feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental. As cinzas que os cristãos católicos recebem neste dia é um símbolo para reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte. Ocorre quarenta dias ante da Páscoa sem contar os domingos (que são incluídos na Quaresma); ela ocorre quarenta e seis dias antes da Sexta-Feira Santa contando os domingos. Seu posicionamento varia a cada ano, dependendo da data da Páscoa, podendo variar , do começo de fevereiro até a segunda quinzena de março.
Alguns cristãos tratam a Quarta-Feira de Cinzas como um dia para se lembrar a mortalidade da própria mortalidade. O padre marca a testa de cada celebrante com cinzas, deixando uma marca que normalmente fica na testa até o pôr do sol, antes de lavá-la.
Esse simbolismo relembra antiga tradição do Oriente Médio de jogar cinzas sobre a cabeça como símbolo de arrependimento perante a Deus. No catolicismo Romano é um dia de jejum e abstinência.

Futuras datas da Quarta-Feira de Cinzas:
2010 – 17 de fevereiro 2011 – 09 de março
2012 – 22 de fevereiro 2013 – 13 de fevereiro
2014 – 05 de março 2015 - 18 de fevereiro

Fonte: Wikipédia



domingo, 22 de fevereiro de 2009

Palhaço


"Se tivesse acreditado na brincadeira de dizer verdades
teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando,fa-
lei muitas vezes como um palhaço mas jamais duvidei da
platéia que sorria..."
Charlie Chaplin
Wel

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Enterro e flores


Não respondi ao grito.
Vivia longe e ocupado.
Pensava num título de um documentário
de homenagem a Vinicius de Moraes:
"Quem pagará o enterro e as flores se eu
morrer de amores?"
Fora de mim não escutei uma palavra tua.
Castiga a minha presunção.
Quando eu me deitar de costas, põe-me
um pé na garganta e outro na boca.
E passa sobre mim três vezes.
Donde vem tanta soberba?
Daniel Sant'Iago
Wel
Reflexão:
"Os homens não deixam de enamorar
quando envelhecem, mas envelhecem
quando deixam de enamorar"

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Desencontro


Duas paralelas que se cruzam
num ponto qualquer.
O vento forte, a noite.
Encontro marcado desencontrado,
a solidão.
Encantos sonhados desencantados,
o vazio.
A procura da luz,
o encontro com a treva.
A esperança de vida,
a certeza da morte.
Wanderley E. Lima






quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Soneto XLIV


Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.
Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo todavia.
Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desditoso.
Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Porisso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Pablo Neruda
Wel



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Perversidade


Alguém me disse, com a voz embargada, que agora sim,
estava convencido da existência de Deus, porque os tra-
balhos psicografados de Humberto de Campos eram evi-
dentemente dele mesmo.
- Mas isto não prova a existência de Deus... Prova a exis-
tência de Humberto de Campos.



Mário Quintana
Reflexão:
"Ninguém disse que a vida é fácil,
apenas disse que ela vale a pena."
Wel

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Carnaval II


Confete

O Confete aparece pela primeira vez no carnaval de Roma sobre a forma de “confetti”, ou “confeitos” de açúcar que as pessoas jogavam umas nas outras durante o corso nas ruas da cidade.
O confete de papel (geralmente branco, dourado e prateado) é noticiado pela primeira vez no carnaval de Paris, em 1892.
Um fato curioso: em razão do adiantamento do carnaval carioca daquele ano para o mês de junho, a folia da cidade pode utilizar no mesmo ano em que fora lançada na Europa.

Batalha de confete

As Batalhas de Confete, ou Batalha de Flores, eram os nomes dados , no início do século XX, às promenades características do carnaval da elite carioca desde meados do século XX.
A necessidade de se possuir uma carruagem, ou mais um automóvel, fazia com que essa diversão fosse uma exclusividade das classes mais abastadas (...)

Serpentina

Não se sabe o certo a origem da serpentina. As primeiras notícias sobre o uso desse artefato carnavalesco, vêm de Paris e informaram que ela começou a ser usada em 1893, um ano depois do confete.
Alguns relatos dizem que a idéia surgiu quando um industrial percebeu a brincadeira que algumas telegrafistas francesas, faziam ao final do expediente, lançando umas sobre as outras as fitas de papel azulado dos telégrafos da época.
Fonre: Wikipédia
Wel


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Carnaval - História e etimologia


A festa carnavalesca surge a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum - Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia deste período de privações. A palavra “carnaval” está, desse modo, relacionada com a idéia de “afastamento” dos prazeres da carne marcado pela expressão “carne vale”, que acabou originando o termo “carnaval”.
Em geral, este tempo de festas e prazeres tem a duração de três dias, aqueles que antecedem a Quarta-Feira de Cinzas. Em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados de “gordos”, em especial a terça-feira (Mardi Grãs), último dia antes da Quaresma. Nos Estados Unidos, o termo Mardi Grãs é sinônimo de Carnaval.

Cálculo do dia de Carnaval.

Todos os feriados eclesiásticos são calculados em função da data da Páscoa, com exceção do Natal. Como o domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir do equinócio da primavera (no hemisfério norte)ou do equinócio do outono (no hemisfério sul), e a sexta-feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a terça-feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa.

Fonte: Wikipédia




wel

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Horas


O olho do relógio vigia meu coração
(acima do bem e do mal e dentro do medo)
Até às onze horas de hoje
não amei ninguém.
Espero que até às cinco da tarde amanhã
eu ame alguém.
O olho do relógio vigia, vigia.
Mas nem o medo afasta o desamor.
Francisco Alvim

Reflexão:
" O homem tem uma responsabilidade imensa,
pois ele se torna aquilo que decide ser."
Santo Agostinho

Wel

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Epigrama


Narciso, foste caluniado pelos homens,
por teres deixado cair, uma tarde, na água incolor,
a desfeita grinalda vermelha do teu sorriso.

Narciso, eu sei que não sorrias para o teu vulto, dentro da onda:
sorrias para a onda, apenas, que enlouquecera, e que sonhava
gerar no ritmo do seu corpo, ermo e indeciso,

a estátua de cristal que sobre a tarde, a contemplava,
florindo-a para sempre, com o seu efêmero sorriso...

Cecília Meireles
Wel


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Diálogo Final


- É tudo que tem a me dizer? - pergunta ele.
- É - responde ela.
- Você disse tão pouco.
- Disse o que tinha pra dizer.
- Sempre se pode dizer mais alguma coisa.
- Que coisa?
- Sei lá. Alguma coisa.
- Você queria que eu repetisse?
- Não. Queria outra coisa.
- Que coisa é outra coisa?
- Não sei. Você devia saber.
- Por que eu devia saber o que você não sabe?
- Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não sabe.
- Eu só sei o que eu sei.
- Então não vai mesmo me dizer mais nada?
- Mais nada.
- Se você quisessse...
- Quisessse o quê?
- Dizer o que você não tem para me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você. Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.
- Mas tudo acabou entre nós.
- Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me diz mais nada sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.

Carlos Drummond de Andrade
wel


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Este é um blog maneiro


Ganhei esse selo do blog enfim é o que tem pra hoje...
http://paulobraccini-filosofo.blogspot.com

Fico grato pela gentileza do amigo Paulo Roberto que conferiu este selo a este blog.


Regras:
1 - Exiba a imagem do selo “Olha Que Blog Maneiro” que vc acabou de ganhar!
2 - Poste o link do blog que te indicou.(muito importante!)
3 - Indique 10 blogs de sua preferência.
4 - Avise seus indicados.
5 - Publique as regras.
6 - Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras.
7 - Envie sua foto ou de um(a) amigo(a) para olhaquemaneiro@gmail.com juntamente com os 10 links dos blogs indicados para verificação.
Caso os blogs tenham repassado o selo e as regras corretamente, dentro de alguns dias você receberá 1 caricatura em P&B.


Indicados:


http://leonor_cordeiro.blog.uol.com.br/

http://www.aventurasmusicaisdemisterteles.blogspot.com/

http://nectar-da-flor.blogspot.com/

http://www.thiagohenrick.blogspot.com/

http://www.pessoa.art.br/index.php

http://ograpiuna.blogspot.com/

http://sagitario1.blogspot.com/

http://doidademarluquices.blogspot.com/

http://maquinadeletras.blogspot.com/

http://marthacorreaonline.blogspot.com/

wel

Janelas


Há um homem sonhando
numa praia; um outro
que nunca sabe as datas;
há um homem fugindo
de uma árvore; outro que perdeu
seu barco ou seu chapéu;
há um homem que é soldado;
outro que faz avião;
outro que vai esquecendo
sua hora seu mistério
seu medo da palavra véu;
e em forma de navio
há ainda um que adormeceu.
João Cabral de Melo Neto
Wel


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Um Triz


Penso nos instantes
de paixão líquida
como se morresse
um pouco a cada suspiro
como se deixasse
a vida de vez em quanto
tatuada de minha dimensão proibida
penso nessa paixão
de amantes trepantes
como se existíssemos
apenas na velocidade
como se estivéssemos
por um triz
Jonas Pinheiro Araújo
Wel


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Velha História


Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no “17” – o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando o peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial...
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira ? Não, não e não! Volta para o seio da sua família. E viva eu cá na terra sempre triste...”
Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez um redemoinho, que foi depois serenando, serenando...até que o peixinho morreu afogado.

Mario Quintana

Wel

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Quando Júpiter encontrou Saturno


-[...] Quando a note chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.

- Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.

- Vou te escrever carta e não mandar.

- Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.

- Vou ver Júpiter e me lembrar de você.

- Vou ver saturno e me lembrar de você.

- Mesmo quando não estiverem mais juntos.

- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.

- O tempo não existe.

- O tempo existe e devora.

- Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema ?

- Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.

- E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.[...]


Caio Fernando Abreu

Wel

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Arte do chá


Ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo.

Paulo Leminsk
Wel


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Arte de Amar


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação,
Não noutra alma.
Só em Deus ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Manuel Bandeira

Wel




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Rotina


O bar é o mesmo.
O garçom é o mesmo.
A bebida, nem preciso pedir, é a mesma.
O dia ? Todos os sábados.
A companhia ? Ninguém.
Êta merda de vida !

Wanderley E. Lima




quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Medo



Provisóriamente não cantaremos o amor, que se refugiou no mais baixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços.
Não cataremos o ódio, porque esse não existe.
Existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das Igrejas.
Cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo do depois da morte, depois morreremos de medo.
E sobre o nosso túmulo nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade
Wel

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Subversão


Benditos sejam os que nadam contra a corrente.
Benditos sejam os que não se submetem às imposições da cultura dominante.
Benditos sejam os que, sem medirem conseqüências,
sem se importarem com os riscos de serem arrastados ao ridículo
e ao escárnio da opinião pública,
subvertem os valores estabelecidos.
São esses, que despertam
e fazem com que os homens
dêem um passo à frente no caminho da consciência de si mesmo.


Plínio Marcos

Wel

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Desilusão


E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substsiruirei o destino pela probabilidade.

Clarice Lispector . A Paixão Segundo G.H.

Wel

Alegria


Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.


Clarice Lispector

Wel



v

domingo, 1 de fevereiro de 2009

As razões do amor


Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade


Wel
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