sexta-feira, 17 de abril de 2009

Poema da gare Astapovo


O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,
Contra uma parede nua...
Sentou-se e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glária,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo sozinho à quela hora,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos de infância!
Mário Quintana
Wel

Um comentário:

  1. Pelo menos ele teve a coragem de desafiar o prevísivel. Realizou um ato de liberdade antes de morrer.
    Eu as vezes sinto um pouco de inveja de pessoas que tem uma vida cheia de conforto e troca tudo para morar em um cabana no Himalaía, por exemplo.
    Uma vez eu escrevi uma crônica, em que o personagem principal, tinha um efisema pulmonar, mas mesmo sabendo que poderia adiantar sua morte, não parou de fumar.
    Morreu mas não deixou de fazer o que gostava que era fumar.
    Muitas vezes a vida nos prega certas peças como essa. E nos poê contra a parede.

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