terça-feira, 7 de abril de 2009

As dez Encarnações


Na primeira vermelho, era lindo.
Na segunda velho, pele enrugada, lindo.
Na terceira fui deixado na porta de um orfanato. Sem camisa e sem sapato fui pela vida levado, algumas vezes sorrindo, na maioria chorando.
Na quarta nasci mulher. Fui rainha, amante e miss. Tive homens, tive filhos, jóias e tudo que quis. Sonhei seda e poesia, li, dancei e chorei.
Na quinta quis ser poeta, não consegui.
Na sexta, como profeta, nada vi.
Na sétima olhei para os lados, andei a deriva, dormi em motéis, quartéis e bordéis. Fui carne de pescoço, comida de general, arroto de traficante, nem pele nem osso. Figurante de chacina, chupador de pau de cana, fumador debagana, apertador de buzina, travesti e coisa e tal.
Na oitava tive mais sorte. Fui um príncipe consorte. Casei com a filha do rei, dez mil povos comandei, dez mil mortos deixei.
Na nona fui pai. O nosso de cada dia. Olhei para os pecadores e quase morri de rir.
Na décima? Cacete!
Paulo Wainberg
Wel

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