Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um
menino chora.
O chora atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumor da gota de remédio caindo
na colher.
Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a
cabeça
e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino
chorando.
Carlos Drummond de Andrade
Wel
Amigo, maravilhoso o seu blog. Livro, poema, textos, tudo isso é comigo.Parabéns.
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