segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A mortalha




Nessas noites frias e sepulcrais

As sombras dos corpos rastejam, lentas,

Em labirintos medonhos, sedentas

Pela luz de luzentes castiçais.

Pendem de sonolentas ossaturas
Restos de epidermes apodrecidas,
Vestígios de existências denegridas...
Manchas negras em burlescas pinturas.

Ao longe, um vulto indizível flutua
Na espessura leve, aérea, noturna,
E de forma vaga, em dança soturna,
Baila... difuso nos lumes da lua.

Com a veste triunfal, disfarçado,
— Mortalha soberba de muitos vultos —
No silêncio, no vinho, nos tumultos,
Caminha a desgraça... a morte do lado.

A esperança de encontrar sóbrias luzes
Guia seus passos, os falsos sentidos,
Na escuridão que aflige os desvalidos,
Na noite eterna, entre lajes e cruzes.


Abílio Mateus Jr.


Wanderley Elian

21 comentários:

  1. Gostei e muito********
    Beijos querido Wanderley.
    Boa Semana Sempre.
    Renata

    ResponderExcluir
  2. Isso me remeteu a tantos seres que se foram ou estão se indo ultimamente. Passagem de féretros que em poucas horas atrás guardavam aquela chama da vida, aquele dom de viver. Hoje não se tem mais certeza. Nunca se teve. Até o raiar do dia, não temos garantia. Mas nos apoiamos em amores, em projetos ainda por acabar. Sempre achamos que são demasiadamente estreitos os limites de nossas misérias. Podemos ultrapassar o umbral da porta e cair para nunca mais. Ou para a eternidade. Não importa; depois do silêncio terreno que venha o coro etéreo. Que vivamos tudo o que há a cada dia. Que pensemos sempre como gostaríamos de estar e o que gostaríamos de sermos pegos fazendo no momento do último suspiro. Não há de ser nada. Não há de doer, não há de ser dramático. Haverá de ser doce, meu amigo. Haverá de ser um momento infinitamente brando.

    Boa semana de sua amiga que não é nada razoável. Abraço.

    ResponderExcluir
  3. É a única certeza que temos, a da morte.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  4. Espero que tenhas uma ótima semana!
    abraço

    ResponderExcluir
  5. Morbio, louco, é o que realmente vivemos, caminhando lado a lado com a morte...abraços meu querido amigo poeta....uma bela semana pra ti....

    ResponderExcluir
  6. "A esperança de encontrar sóbrias luzes
    Guia seus passos, os falsos sentidos,
    Na escuridão que aflige os desvalidos,
    Na noite eterna, entre lajes e cruzes. "


    Gostei dessa parte, uma hora você há de encontrar, os barrancos vao aparecer mas basta você se enfrentar e derruba-los!

    Que bom esta de volta amigo, se cuida e otima semana!
    Beijos!

    ResponderExcluir
  7. sim ... louco e mórbido mas é a realidade de todo SER ... enfim ... ainda amo e quero amar a vida ... deixa o este momento de sermos deletado para mais adiante ...

    bjux

    ;-)

    ResponderExcluir
  8. Querido Wanderley:

    Bom retorno, espero que tenha conseguido descansar neste breve break. Linda semana e muita luz e saúde pra ti. Beijooo.

    ResponderExcluir
  9. Começamos a morrer quando nascemos, parece desesperador, mas nem sempre damos crédito e por isso passamos a maior parte da vida entre lajes e cruzes.

    Uma excelente semana.

    ResponderExcluir
  10. Wanderley,

    Um poema sóbrio, mas com o seu lado um tanto sombrio que a noite tem, que muitos poetas preferem ver emn certos momentos de suas vidas...lindo, adorei!!!!

    Uma ótima semana meu amigo!!!

    Beijos,

    Reggina Moon

    ResponderExcluir
  11. Ai!
    Essa frase me arrepiou
    "— Mortalha soberba de muitos vultos — "
    Muito poetica a forma que o texto retrarou a morte... principalmente no final
    Eu adorei
    Beijos e tenha uma ótima semana!

    ResponderExcluir
  12. Wanderley
    Lindo poema, muito sombrio, mas é realidade.

    Beijinhos
    Sonhadora

    ResponderExcluir
  13. Olá Wanderley! Seu poema me fez viajar nessa tragédia que aconteceu no Haiti.

    É um poema triste,profundo, mas não deixa de ser belo quando fala na "esperança de encontrar sóbrias luzes".
    Quando há esperança, há vontade de viver.Muito lindo!!!

    Beijoss

    ResponderExcluir
  14. Quantas vezes o corpo é sepulcro de alma agonizante... é vulto esquivo, seduzido pelas trevas...

    Vou deixar, por email, convite para o meu blog.


    Abraço

    ResponderExcluir
  15. Caro Vanderley,

    O poema é lindo!

    É um prazer estar a seguir o teu espaço;)

    Abraço,

    ResponderExcluir
  16. A noite é mortalha de muitos vultos.

    Abraço

    ResponderExcluir
  17. Tudo muito lindo....palavras, cores, imagens.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  18. A ÚNICA CERTEZA DA VIDA É A MORTE - ELA SIM É CERTEIRA.

    ME PARECEU UM DAQUELES POEMAS DE GREGÓRIO DE MATOS O BOCA DO INFERNO - NÃO ERA ELE QUE FAZIA POEMAS ASSIM MÓRBIDOS

    BEIJOS

    AH LI NO SEU PERFIL QUE VC GOSTOU DO FILME: TOMATES VERDES FRITOS - EU ADOREI TB

    ResponderExcluir
  19. Wanderley

    a poesia nasce muitas vezes das pequenas coisas que ninguén dá valor. Mas o poeta está atento


    um beijo


    PEDRA FRIA


    Sentada nesta pedra fria

    Os meus pensamentos voam
    Aqui vejo as árvores e o céu...
    As libelinhas e as formiguinhas...

    E tudo me faz companhia...
    Tudo me faz sentir bem...
    Pois com cuidado vêm ter comigo...

    E a libelinha de mansinho...
    Poisa nos meus ombros...
    E sinto que me afaga...
    Como a querer beijar-me...

    As formigas, correm e correm...
    Estão a pensar nelas...
    Vão trabalhando...
    E não olham para mais nada...

    Trabalho e liberdade...
    Estão de mãos dadas...
    E com carinho...
    Olham para mim...

    E eu sentada na pedra fria...
    Deixo-me embalar...
    E deixo-me adormecer


    LILI LARANJO

    ResponderExcluir
  20. Muito bom com um q de Augusto dos Anjos

    ___________________________________________
    http://www.livroteologo.blogspot.com/

    ResponderExcluir

passou por aqui . deixe sua impressão . obrigado

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...