quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Amor entre iguais (miniconto)


Pediu um café. Enquanto fumava, lia o jornal, na manchete um crime passional. Lembrou que tinha que ir pra casa matar seu companheiro de amor.

Wanderley Elian

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Romance de uma caveira



Eram duas caveiras que se amavam
E à meia-noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam.
Sentados os dois em riba da lousa fria
A caveira apaixonada assim dizia
Que pelo caveiro de amor morria
E ele de amores por ela vivia.
Ao longe uma coruja cantava alegre
Ao ver os dois caveiros assim felizes
E quando os dois se davam beijos funebres
A coruja batendo as asas, pedia bis
Mas um dia chegou de pé junto
Um cadáver novo de um defunto
E a caveira pr'ele se apaixonou
E o caveiro antigo abandonou.
O caveiro tomou uma bebedeira
E matou-se de um modo romanesco
Por causa dessa ingrata caveira
Que trocou ele por um defunto fresco.

Alvarenga e Ranchinho

Wanderley Elian

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Trajetória de um Esquerdista


Estava sempre de calça jeans, sandálias de couro cru, e camiseta de malha com a estampa de Che Guevara. Conquistava a todos com seu jeito de menino carente e desprotegido. Embora sempre estivesse sozinho, era desejado por meninas e meninos, que sonhavam acariciar seus cabelos cuidadosamente desalinhados.  Dizia-se ateu e odiava a burguesia, para ele, causadora de todos os males da humanidade.  Entrou para o DA e distribuía panfletos convocando a todos para protestarem contra os desmandos do governo. Era o mais conhecido  no campus, e o lugar menos provável de encontrá-lo era em sala de aula.
Depois de muito tempo formou-se em filosofia e foi dar aulas em uma escola pública, queria estar onde o povo está. Entrou para uma chapa de oposição ao sindicato dos professores, e por lá ficou muito tempo.
Candidato-se a Deputado Federal, como legítimo representante das classes trabalhadoras.
Hoje mora em Brasília, mama nas tetas do poder, desfrutando de mordomias financiadas com o dinheiro do povo que  prometeu defender.

Wanderley Elian

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O jogo do amor


Ele jogou com todas as cartas,
abriu o jogo, não blefou.
Queria amar intensamente.
Esqueceu de guardar aquela carta na manga.
Perdeu.

Wanderley Elian

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Deus me livre de ser feliz




Deus me livre de ser feliz. Existem coisas mais sérias que a felicidade. Algum sabichão por aí vai dizer, sentindo-se inteligentinho: "Existem várias formas de felicidade!". E o colunista dirá: "Sou filósofo, cara. Conheço esse blá-blá-blá de que existem vários tipos de felicidade, mas hoje não estou a fim".Um bom teste para saber se o que você está aprendendo vale a pena é ver se o conteúdo em questão visa te deixar feliz.
Se for o caso e você tiver uns 40 anos de idade, você corre o risco de sair do "curso" engatinhando como um bebê fora do prazo de validade. A mania da felicidade nos deixa retardados.
Querer ser feliz é uma praga. Quando queremos ser felizes sempre ficamos com cara de bobo. Preste atenção da próxima vez que vir alguém querendo ser feliz.
Mas hoje em dia todo mundo quer deixar todo mundo feliz porque agradar é, agora, um conceito "científico". Quem não agrada, não vende, assim como maçãs caem da árvore devido à lei de Newton. 
Mas eu, talvez por causa de algum trauma (fiz análise por 20 anos e acho que Freud acertou em tudo o que disse), não quero agradar ninguém.Não considero isso uma "vantagem moral", mas uma espécie de vício. Claro, por isso tenho poucos amigos. Mas, como dizem por aí, se você tiver muitos amigos, ou você é superficial, ou eles são, ou os dois. 
Quanto aos meus alunos e leitores, esses eu nunca penso em deixar felizes, graças a Deus. 
Desejo para eles uma vida atribulada, conflitos infernais com as famílias, dúvidas terríveis quanto a se vale a pena ou não ter filhos e casar.Desejo que, caso optem por não ter família, experimentem a mais dura solidão da existência humana, porque, no fundo, não passam de egoístas. Mas se tiverem família, desejo que percebam como os filhos cada vez mais são egoístas porque querem ser felizes e livres. 
Desejo para eles pressões violentas no mercado de trabalho. E jantares à meia-noite diante de um trabalho que não pode ficar para amanhã porque querem viajar e ter grana para gastar. 
Quem quiser ser livre, que aguente a insegurança da liberdade. Quem for covarde e optar por uma vida miseravelmente cotidiana que veja um dia sua filha jogar na sua cara que você foi um covarde.Especialmente, desejo um futuro cruel para quem acredita que "ser uma pessoa de bem" a protege de ser infiel, infeliz, abandonada e invejosa.Espero que um dia descubram que, sim, eles têm um preço (apenas desejo que seja um preço alto) e que se vendam. 
Espero que percebam que seus pais não foram santos e parem com essa coisa de gente brega de classe média que tenta inventar uma "tradição ética familiar" que só engana bobo. 
E por que digo isso? Porque hoje todos nós estamos um tanto infantilizados e só queremos que nos digam o que achamos legal. O resultado é uma massa de obviedades. A tendência é transformar o pensamento público em autoajuda ou em "compromisso com um mundo melhor", o que é a mesma coisa. 
Quem quer agradar é, no fundo, um frouxo. Vejamos alguns exemplos do produto "querer ser feliz". Comecemos por quem acha que o seu "querer ser feliz" é superior e espiritualizado.Talvez você queira virar luz quando morrer porque ser luz é legal (risadas). Deus me livre de querer virar luz quando morrer. Prefiro as trevas.Se for para continuar vivendo depois de morto, prefiro viver no "meu elemento", as trevas, porque sou cego como um morcego.Normalmente, quem quer virar luz quando morrer é gente feia ou magra demais. Mulheres bonitas vão para o inferno, logo... 
E gente que acha que frango tem mãe (só porque ele "descende" do ovo de uma galinha, e ela de outro...) e por isso é crime matá-los? Trata-se de uma nova forma de compromisso com a "felicidade social e política".Entre esses "felizes que desejam a felicidade para os frangos" existem pessoas de 40 anos com cérebro de dez e pessoas de dez anos que um dia terão 40, mas com o mesmo cérebro de dez. Não creio que mudem. 
Hoje é Carnaval. Espero que você não tenha pegado aquele trânsito idiota de cinco horas para ser feliz na praia. 

Luis Felipe Pondé 

Wanderley Elian

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Meu mundo


Coisas que sei de mim,
só eu sei.
No mundo que criei
não tem fendas
não tem portas
não tem janelas.
Só eu entro
invento
reinvento.
No mundo que criei
sou vassalo e sou rei.

Wanderley Elian
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